Conferência vê drones virar ferramenta

Por:Editor Saletto
Engenharia

03

jan 2018

MRTS-Mass Rapid Transit Corp. da Malásia, NJS Engineers da Índia, Pestech International Berhad do Camboja, Beijing Institute of Water da China, e a Leighton Asia da Austrália foram algumas das empresas que atuam em economias emergentes que venceram com seus empreendimentos, o prêmio Be Inspired 2017 promovido pela Bentley, nas respectivas categorias de infraestrutura, realizado no início de outubro, em Cingapura, dentro da programação da Conferência Year in Infrastructure 2017 (YII 2017). Esses exemplos de gestão digital de obras e projetos — que adotam o formato BIM (Building Information Modeling) como padrão – são cases de sucesso que tornam admirável o grau acelerado de difusão dessas tecnologias nesses países, inclusive na China onde o avanço é notório.

Constatamos que o atraso crescente do Brasil nesse processo é visível nos contratantes públicos, com raríssimas exceções, como o Exército e o governo Estadual de Santa Catarina. Com típico comodismo tupiniquim, o governo federal propôs recentemente um grupo de estudo sobre BIM, quando já deveria contratar sua implantação ampla na máquina administrativa.

Mas quem roubou a cena na conferência global foram os drones — que até a pouco tempo atrás era tido como um hobby de excêntricos. A Seikey Enterprise ganhou um dos prêmios especiais de reconhecimento no evento, pelo  trabalho de inspeção com drones de torres de telefonia móvel em Caronno Pertusella, em Varese, na Itália, a custo e prazo significativamente menores do que métodos tradicionais.

Um consórcio liderado pela Jacobs também recorreu a drones para mapear o traçado de um trecho do TAV da Califórnia, Estados Unidos, que por razões burocráticas teve o prazo de execução inviabilizado para processos por terra ou aeronaves tripulados. Ao final, o uso de drones permitiu cumprir o prazo exíguo e os custos ficaram abaixo dos métodos tradicionais

UMA RAIA OLÍMPICA PENDURADA NO 56º ANDAR, COM VISTA 360º

O local escolhido para a conferência YII2017 é o emblemático complexo hoteleiro de Marina Bay Sands – ícone no litoral de Cingapura, formado por três conjuntos de edifícios gêmeos de 55 andares, de perfil elíptico, unidos no topo por uma laje que tem uma extremidade em balanço de 66,5 m. Sobre a laje ficam uma piscina de borda infinita de 150 m, pistas de corrida, bares e restaurantes e jardins — com vista 360º.

Embora o projeto arquitetônico de Moshe Safdie seja de gosto questionável, seu projeto estrutural incorpora soluções inovadoras refinadas pela Arup. Inaugurado em 2010 após três anos de obras e US$ 6 bilhões, o complexo de 929 mil m² incorpora hotel com 2.560 quartos, centro de convenções, mall, museu Art & Science, dois teatros e um casino.
Enfim, essa estrutura fora do comum remete à origem da conferência Year in Infrastructure promovido pela Bentley, que elege todo ano os projetos mais relevantes em diversos segmentos de infraestrutura — inclusive industrial e em edificações, através de voto de jurados independentes.

Na véspera, a falha de um conjunto de bombas fez alagar um túnel do metrô de Cingapura durante pesadas chuvas, paralisando a linha durante 20 horas. Esse incidente inesperado chamou atenção ao lançamento do software OpenRail edição Connected no evento, que adota a abordagem de engenharia de sistemas para desenvolver desde os projetos conceituais e detalhados de uma ferrovia ou metrô, na modalidade 4D, passando pelo sequenciamento das etapas construtivas, detecção antecipada de interferências (clashes), acompanhamento físico das obras com custos e prazos atrelados, faz a entrega da obra pronta para operação, e repassa todo esse enorme conjunto de dados para o setor de manutenção, responsável pelo ciclo de vida desse ativo. Todas as atividades se valem de processamento de dados “na nuvem”Azure da Microsoft, com acesso seguro de todos os stakeholders, sejam os proprietários até as empresas contratadas e fornecedores.

A rigor, se esse pacote de softwares estivesse em uso no metrô de Cingapura, os sinais de falha iminente das bombas teriam sido detectados e uma ação corretiva implementada – a tempo de prevenir o alagamento dos túneis e paralisação da linha. Na era das notícias instantâneas das mídias sociais, esse incidente teve ampla repercussão negativa junto à população.

A DIGITALIZAÇÃO CHEGOU PARA FICAR

Não se trata mais de se discutir quando um contratante ou empresa de engenharia vai ingressar na era digital — que se tornou inexorável. No Brasil, onde se discute ainda quando adotar o formato BIM nas concorrências públicas de obras, vale lembrar a descrença que cercou a chegada do telefone celular e mais tarde do tablet. Mas o celular tornou-se um fenômeno de popularização e foi adotado como padrão pelos usuários pessoas físicas, obrigando as empresas e o mercado a acompanhá-los. O BIM, com muita lentidão, está se difundindo no setor público do País — com o Exército e governo de Santa Catarina na dianteira.

A depuração em curso no setor de obras públicas e infraestrutura e a busca de novos personagens na política, pode levar a prevalecer o fato de que a transparência é o único caminho para rastrear cada real investido num  empreendimento público, sua qualidade de execução e prazo. A digitalização e novas tecnologias
como o drone vão derrubar velhos e seculares paradigmas, que blindavam a velha politica de gestão
de obras, com resultados nefastos.

DRONES FOTOGRAFAM TRAÇADO PARA TAV DA CALIFÓRNIA

Contribuindo para a maturidade da “modelagem de realidade”, há crescimento exponencial no uso de drones associado ao software ContextCapture, que transforma fotos aéreas de alta resolução em nuvem de pontos georefenciados — podendo combinar na mesma imagem final dados de scanner e de fotogrametria. Nenhum contratante de obras, por mais remotas que sejam, no Deserto de Gobi na Mongólia ou na selva da Amazônia, pode continuar alegando que “desconhecia” atrasos ou desvios de execução pelas contratadas. Não há mais necessidade de um fiscalchegar fisicamente ao canteiro; acabou também o risco de negociações questionáveis frente a fotos datadas.
A conferência YII2017 apresentou o case sobre o mapeamento de um trecho central de 67 km do TAV da Califórnia, Burbanks-Los Angeles-Anaheim, dentro de um prazo que se revelou inviável para sobrevoo com aeronave — além do custo substancialmente maior — ou mobilização de uma equipe terrestre. O consórcio projetista Jacobs-Zephyr UAS convenceu a CHSRA – agência responsável pelo projeto – a empregar drones operados por empresa especializada, para captura de fotos de alta resolução em diversas ângulos, que em seguida eram baixadas no escritório para processamento 24 horas, empregando o software ContextCapture. Com essa abordagem, o mapeamento foi concluído em oito semanas, com altíssima precisão, contra 18 semanas estimadas de aeronaves tripuladas, com economia de custos na ordem de 87% comparado aos dois outros processos tradicionais.

MRTC DA MALÁSIA ESTIMA ECONOMIZAR 30% SOBRE RETRABALHO

A MRTC-Mass Rapid Transit Corp. constrói a segunda linha de metrô para a região Greater Kuala Lumpur-Klang Valley, na capital malaia, e é a primeira obra do gênero na Ásia a adotar BIM nível 2. O projeto de 32 bilhões dólares locais se estende por 52 km, dos quais 13,5 km no subsolo, 35 estações, capaz de levar 2 milhões de passageiros. A MRTC fez adoção obrigatória do BIM, incluindo fotogrametria 3D para avaliar metas críticas em obras. O ProjectWise serviu de plataforma comum para múltiplas disciplinas de projeto e AssetWise vai gerenciar as informações durante o ciclo de vida das instalações. O ContextCapture foi empregado para verificar a precisão dos projetos, importando nuvens de pontos a modelos de construção 3D, como referência factual das condições existentes. Esse projeto foi vencedor na categoria Rail & Transit no prêmio Be Inspired 2017.

A categoria Pontes foi vencida, sem surpresas, pelo projeto da ponte que ligará Heihe, na China, a Blagoveshchensk, na Rússia, numa extensão de quase 20 km e um trecho estaiado de 1,284 m, numa região alpina com variações extremas de temperatura. O uso de diversos softwares da Bentley melhorou a eficiência da modelagem das estruturas em 35% e levantamentos digitais do terreno otimizaram os trabalhos de terraplenagem.

Cingapura lançou o programa de Nação Inteligente tomando como base um mapa digital 3D de alta precisão que cobrisse o território dessa cidade-estado. A AAM Group foi contratada para conduzir o mapeamento móvel usando veículos, abrangendo 5.500 km de rodovias, edificações e equipamentos urbanos — através de modelos altamente detalhados em 3D. Foram produzidos 3 milhões de imagens em alta resolução, e 600 bilhões de pontos LiDAR. Usando o padrão CityGML, foi possível obter precisão de 30 cm nas imagens e velocidade de mapeamento de 2,5 km/dia.

O trabalho levou cerca de 2.200 dias. (Algumas capitais brasileiras bem que poderiam ter algo parecido, para coordenar as ações sobre as redes de utilidades de água, esgoto, energia e telecomunicações, evitando que uma
mesma via seja escavada sucessivas vezes num curto prazo).

Brasil teve dois projetos finalistas

No categoria Redes d’Água, o vencedor do prêmio Be Inspired foi a concessionária Aegea, do Brasil, com o projeto que recuperou a lagoa de Araruama como polo turístico na Região dos Lagos (RJ), com amplo impacto socioeconômico.
Outro finalista do Brasil foi o projeto Olinda desenvolvido pelo consórcio Enorsul-Suez-DAS, em Pernambuco, que graças a um modelo hidráulico estruturado com softwares da Bentley, identificou os pontos de perdas na rede e suas deficiências técnicas, que uma vez eliminados, tornaria possível atender toda a população da cidade histórica com o volume de água produzido atualmente

*Fonte: Revista – O Empreiteiro

 

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