Por:Editor Saletto
Engenharia
jan 2018
Os resíduos sólidos da construção civil (RSCC) estão presentes em todo tipo de obra, não tem como escapar. A Construção Civil não é destaque somente como indústria de grande impacto na economia, também é a responsável por produzir 50% dos resíduos do país.
Mas você sabe o que exatamente são esses resíduos, como minimizá-los e até aproveitar na própria obra?
Parece simples: tijolos, massas e outras sobras são acumuladas em uma caixa de transporte que uma empresa terceirizada recolhe e fica responsável pelos resíduos sólidos da sua construção. Certo?
Não, não é simples assim, e você como responsável pela construção também é o responsável legal pelos resíduos sólidos gerados por ela, desde a produção na sua obra até a finalização.
Nesse post você vai entender tudo sobre os RSCC, ficar por dentro da legislação e normativas que os categorizam por composições e determinam formas de destinação final, além de dicas de como e o que reciclar.
Ainda temos 12 dicas para reciclar seus resíduos. Elas estão no último tópico.
Composição dos resíduos sólidos da construção
Conhece o famoso entulho de obra? Ou na sua região é chamado de metralha? Esses conhecidos restos de obra podem ser identificados por três nomes técnicos:
Indiferente da nomenclatura adotada o conceito é o mesmo. Conforme o Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, são:
“os provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, e os resultantes da preparação e da escavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica etc., comumente chamados de entulhos de obras, caliça ou metralha.”
A composição dos resíduos sólidos da construção civil é classificada conforme resolução da CONAMA 307 Art. 3°. Sendo:
CLASSE | DESCRIÇÃO DO RESÍDUO | EXEMPLO |
A | Materiais que podem ser reciclados ou reutilizados como agregado em obras de infraestrutura, edificações e canteiro de obras. | Tijolos, telhas e revestimentos cerâmicos; blocos e tubos de concreto e argamassa. |
B | Materiais que podem ser reciclados e ganhar outras destinações. | Vidro, gesso, madeira, plástico, papelão e outros. |
C | Itens para o qual não existe ou não é viável aplicação econômica para recuperação ou reciclagem. | Estopas, lixas, panos e pincéis desde que não tenham contato com substância que o classifique como D. |
D | Aqueles compostos ou em contato de materiais/substâncias nocivos à saúde. | Solvente e tintas; telhas e materiais de amianto; entulho de reformas em clínicas e instalações industriais que possam estar contaminados. |
Na prática os resíduos sólidos da construção resumem-se a restos de materiais cerâmicos, argamassa e seus componentes. Esses itens representam em média 90% de todos os resíduos gerados em obras.
Para que você visualize apresentamos um gráfico de análise dos resíduos do município de São Carlos, em São Paulo, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada do Governo Federal – IPEA.
Lei e NBR sobre resíduos sólidos da construção civil
A indústria da construção civil é tão grande que seria impossível deixar o destino dos resíduos gerados por ela a encargo dos responsáveis por cada obra. Por isso existem normas e leis para regulamentar os resíduos que sobram diariamente.
A primeira lei a se destacar é Lei 6.938/81 que instituiu o Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA como um órgão consultivo e deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA. O CONAMA é é presidido pelo Ministro do Meio Ambiente e conta com colegiado dos setores federais, estaduais e municipais, além do setor empresarial e sociedade civil.
Os resíduos sólidos da construção civil são regulamentados pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e Resolução CONAMA 307/2002.
Não se esqueça:
Um dos destaques da Resolução CONAMA 307 e a atribuição de responsabilidade compartilhada sob os resíduos sólidos da construção civil aos geradores, transportadores e gestores municipais. Com destaque para uma atualização realizada posteriormente – Resolução 348/2004 – que determina que o gerador como principal responsável pelo gerenciamento desses resíduos.
Já a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT – tem sua participação através da NBR 15112, NBR 15113 e NBR 15114 relacionadas a assuntos de diretrizes para projeto, implantação e operação implantação e operação de áreas de manejo. E nas NBRs 15115 e 15116 sobre o uso de agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil.
Agora você já sabe o que são e que existem normas, mas na prática, como funciona? É possível adotar ações sustentáveis?
Como adotar ações sustentáveis?
Na construção muito se fala em sustentabilidade em projetos para o reaproveitamento de água, geração de energia limpa e até manutenção de praças para a comunidade.
Mas não podemos esquecer dos resíduos sólidos, que mesmo sendo de baixa periculosidade, são de grande volume, o que permite que qualquer leigo veja e interprete a indústria da construção como uma indústria pouco sustentável.
A construção civil mundial é umas das indústrias que mais consomem recursos naturais e ainda é responsável por cerca de 25% a 30% de gases lançados na atmosfera, segundo o Green BuildingConcil Brasil.
Não bastasse esses números alarmantes, os resíduos sólidos da construção civil no Brasil representam mais de 50% dos resíduos sólidos urbanos. E a situação piora quando os resíduos são depositados em locais inadequados, principalmente oriundos de obras e reformas informais ou empresas de coleta de resíduos fora da regulamentação.
Cabe ao responsável pela construção dar o destino correto aos resíduos para que eles não comprometam o tráfego de pedestres e veículos, entupimento de drenagem urbana ou até provocarem foco de multiplicação de vetores de doenças a saúde.
Sabemos a importância econômica e social da indústria da construção no mundo. Sabemos que essa indústria só tende a crescer, então porque não adotar ações sustentáveis para minimizar os danos ambientais?
Causas da geração de resíduos sólidos da construção civil
Destacamos algumas causas de geração desses resíduos, sendo:
Como evitar os resíduos sólidos da construção civil
Além dos 10 motivos de geração de resíduos listados vale lembrar também da perda de materiais de obra por armazenamento errôneo ou transporte inadequado. Para evitá-los existem recursos caros e tecnologicamente avançados até processos simples que você pode adotar no dia a dia. Por exemplo:
Como gerir resíduos sólidos da construção civil
Se você é responsável por uma obra fique atento para algumas dicas importantes:
Hoje a maior dificuldade em reduzir ou reciclar os resíduos sólidos da construção civil está na falta de conscientização e mão de obra qualificada. Por exemplo:
Os resíduos da construção correspondem a metade dos resíduos sólidos urbanos e são responsáveis pelo esgotamento de áreas de aterros no país. Além disso, materiais como gesso, amianto e resíduos químicos quando não depositados corretamente podem provocar danos ambientais e à saúde.
Você está fazendo a sua parte?
O problema é sério e precisa de atenção dos profissionais da indústria da construção. E um dos passos a ser dado é a reciclagem.
Reciclagem de resíduos sólidos da construção civil
Nada mais justo que a indústria que mais consome recursos naturais recicle resíduos para que eles voltem a ser insumos de obra e, por consequência, reduza a extração de matéria-prima e poluição. E se não for suficiente, reciclar também ajuda a baixar custos da sua obra.
Você sabia que um tijolo feito com areia reciclada custa a metade do preço do tijolo tradicional? As empresas precisam desmistificar o conceito de que resíduos sólidos da construção são restos, pois há muito a ser aproveitado.
Segundo reportagem do Jornal Nacional, infelizmente no Brasil somente uma a cada cinco obras recicla os resíduos. As obras brasileiras geram 84 milhões de m³ de resíduos por ano, e destes, e apenas 17 milhões são reaproveitados. A boa notícia é que já existem 310 usinas de reciclagem que podem trabalhar com esses resíduos, e de acordo com o professor engº Benedito Oliveira Júnior, ainda existe muito espaço para expandir esse mercado.
A conscientização da construção civil para reciclar é um objetivo da Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição – ABRECON , criada em 2011 para apoiar empresas recicladoras de entulho. Essas empresas recicladoras fazem o trabalho de separação e adaptação dos resíduos em 310 usinas espalhadas pelos estados do país conforme apresentado no gráfico abaixo de concentração de usinas, sendo que 83% delas são privadas.
Se você não consegue aproveitar os resíduos na própria obra, é possível enviá-los para usinas e contribuir para a produção de insumos de obra mais baratos. E veja que o custo para que as usinas recebam seus resíduos são aceitáveis. O preço para que uma usina receba o m³ dos resíduos sólidos varia entre R$5,00 e pouco mais de R$30,00, sendo que somente 36% cobram acima de R$20,00.
E o melhor:
A maioria dos resíduos reciclados retornam para a indústria da construção.
Após os resíduos serem reciclados, 42% dos agregados são vendidos a construtoras e pavimentadoras, e o restante é distribuído para órgãos públicos, pessoas físicas e outros.
12 Dicas para reciclagem de resíduos sólidos da construção civil
Separamos algumas dicas de resíduos para sua empresa refletir se está dando o destino ideal para os resíduos produzidos nas obras.
Conclusão
O aproveitamento, reciclagem e até redução da produção de resíduos sólidos da construção civil é viável e contribui para o futuro sustentável do mundo.
Além disso, aproveitar os resíduos na própria obra reduz gastos na compra de novos insumos, reduz o m³ de resíduos para transporte e recebimento em usinas e aterros e ainda contribui para a produção de insumos mais baratos.
Agora, perguntamos a você, seja gestor ou trabalhador da construção civil, vamos mudar esse cenário? Que tal nos próximos anos mudar o indicador de que 1 a cada 5 obras reciclam e ainda reduzir custos de obra e garantir mais lucro. Isso só depende de você!
*Fonte: SIENGE
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